quarta-feira, 19 de maio de 2010

Concorrência desleal afetou fabricante nacional


Fábricas de escovas de cabelo, óculos escuros, armações de óculos e peças de bicicleta[br]foram prejudicadas

Marcelo Rehder - O Estado de S.Paulo
Em apenas dez anos, a concorrência desleal dos produtos piratas, contrabandeados e importados de forma ilegal, praticamente inviabilizou a produção nacional de escovas de cabelo, armações de óculos e óculos escuros e pedivela (peça da bicicleta onde se encontra a catraca frontal), entre outros. Esse processo foi acelerado pela valorização do real ante o dólar, que tira competitividade do produto brasileiro.
Em 1999, existiam 30 fábricas de escovas de cabelo no Pais, que respondiam por 95% das vendas. Hoje, restam só duas e a participação do produto nacional caiu para 20%. De um total de 300 fabricantes de armações de óculos e óculos escuros, apenas 30 sobreviveram e têm atualmente apenas 5% do mercado, ante 95% há dez anos. Todas as nove fábricas de pedivela fecharam as portas. Em 1999, elas detinham 95% das vendas no País.
As informações são de um levantamento da recém-criada Comissão de Defesa da Indústria Brasileira (CDIB), integrada por representantes de vários setores. O grupo pretende contribuir com as autoridades no combate à pirataria, contrabando e ao chamado "importabando" (contrabando legalizado).
Um dos alvos são as operações de triangulação para evitar o pagamento de taxas da lei antidumping (concorrência desleal). Vários produtos chineses foram taxados porque eram exportados ao Brasil a preços muito mais baixos que o cobrado na China. "Para escapar das taxas, os chineses passaram a mandar seus produtos com uma escala em países vizinhos, fazendo com que o item tivesse outra origem", conta Manoel Carlos Miguez, presidente da Escovas Fidalga e membro fundador da CDIB.
No caso das escovas para cabelo e escovas e pincéis de barba, em 2005, quase 100% das importações eram chinesas. Em 2009, 60% das importações saíam de Taiwan. "O problema é que o Ministério do Desenvolvimento e a Receita Federal não têm aplicado uma lei de 2008, que pune a triangulação", reclama Miguez.
Desde 2005, os fabricantes de aparelhos eletrônicos portáteis de áudio desistiram de produzir esses equipamentos no País, desanimados com a concorrência desleal dos produtos contrabandeados. A situação era tão dramática que o contrabando roubou espaço não apenas da fabricação nacional, mas da própria importação legal.
Entre os itens que deixaram de ter fabricação nacional, estão rádio portátil, DVD player pessoal, rádio toca-fitas de bolso e rádio-relógio. Segundo a Eletros, entidade que representa as empresas do setor eletroeletrônico instaladas no País, esse grupo de produtos representava 4% do faturamento total do segmento de áudio e vídeo. Na época, as vendas do segmento eram estimadas em R$ 10 bilhões. 
Fonte: http://www.estadao.com.br/